Roisin Murphy actuou na passada segunda feira em Berlim, na
Kulturbrauerei e a primeira coisa que se pode dizer é: E-X-C-E-P-C-I-O-N-A-L!!! Roisin Murphy deslumbrou e seduziu. Apareceu de casacão vestido, sobre um conjunto saia casaco. Mais tarde mudou para vestidinho de verão e para algo a puxar ao can-can- Dançou, fez sapateado, meneou as coxas, sacudiu as ancas para a secção de metais e puxou pelo público. A sua actuação transpirou sexo de tal forma que até casais de gays - muitos, assim como de lésbicas - se entusiasmavam - as lésbicas também, mas de forma mais compreensível.
O concerto começou tarde. Antes do início, a sala - talvez para 500 pessoas - foi enchendo enquanto um DJ passava muito hip-hop depois de ter começado com sons mais electrónicos. Mais tarde, o mesmo DJ foi cumprir as funções de baixista. Roisin Murphy, num impecável sentido de oportunidade, apareceu finalmente quando o público dava mostras de saturação. Chegou com a banda a atacar a primeira música e começou logo a arrasar com a sua batida enleante e suavizada pelos dois trompetes e uma saxofone (às vezes também uma flauta) que acompanhavam a banda. A banda em si teve direito a apenas dois momentos de aplauso: quando Roisin os deixa em palco para um diálogo entusiasmante - e de volume bem elevado - entre o trompetista e o teclista e, mais tarde, quando em vez de os apresentar uma a um, lhes vai antes dar um beijo, bem sonoro e de microfone bem perto, ao som de "If we're in love".
Quanto às músicas, de referir que Roisin não foi buscar os sucessos de Moloko. Baseou o espectáculo no albúm em nome próprio "Ruby Blue" (realmente em nome próprio, segundo ela informou a audiência) apenas estendendo um pouco os mesmos à custa de arranjos e de aparentes improvisações dos músicos. Digo "aparentes", porque não o eram, não realmente. Roisin Murphy controlou todo o espectáculo e mesmo o momento mais forte, um crescendo musical que se confundiu a certa altura com barulho, dada a desarmonia entre os instrumentos e voz (para lá do volume de tudo isto), acabou por ser confirmado como perfeitamente ensaiado, com uma redução instantânea e abrupta para o som inicial, baixo e melancólico, no momento certo e em perfeito uníssono, sem qualquer sinal evidente de qualquer dos músicos.
A conclusão? Roisin Murphy chegou para ficar. Pelo menos em concerto. É uma show-woman por direito próprio e deixou toda a gente com a sensação que os 24 euros do bilhete tinham sido uma verdadeira pechincha. Em Berlim fica a vontade de retirar o título a Chilli González e dá-lo a ela: The Entertainer.
Fica apenas a pergunta: para quando uma actuação perante o público português?
D.mo'Lition Jay