A tradição já não é o que era


"Sir" Bob Geldof é um dos nomes apontados para candidato a prémio nobel da paz.
Em primeiro lugar gostava de esclarecer a minha opinião sobre o dito candidato.
Posso dizer que gostava de ser coroado rei de inglaterra por um único instante apenas para lhe poder retirar o título de Sir.
Posso ainda acrescentar que de músico lhe conheço muito pouco e o muito pouco que conheço fica a milhas do minimamente aceitável.
Posso fechar com a menção à gargalhada genuína que me saiu quando um amigo meu disse que estava a contactar bandas de bairro para fazer um "LIVE HATE" dedicado ao Sir Bob.
Não ponho em causa que o Live Aid e o Live 8 possam realmente ajudar (e muito) nas acções humanitárias levadas a cabo nas mais desfavorecidas regiões planetárias.
Não ponho sequer em causa a boa vontade de alguns dos participantes proporcional à ansia de protagonismo de outros.
Reconheço que o "Sir" possa ser essencial na teia de interesses da indústria que consegue agregar tantos músicos em redor de uma causa mas quando se confunde a causa com uma cara (que insiste em posar para a fotografia)...
Ele já deve ter um canto na sua luxuosa casa (provavelmente feita com lucros das suas organizações) reservado para a fotografia oficial.
Se ele realmente chegar a ser nomeado candidato passo a olhar para o nobel como olho para os oscares.
postini

São rosas, senhor, são rosas!

Rosa Leon
Danae
Viviane
Com várias horas de estrada por dia e sem possibilidade de ouvir a mui querida e amada RUC dou comigo a alternar os cd's com as reportagens e crónicas da tsf e a restante emissão da antena 1.
E é por esta última paragem que me tenho prendido mais.
Não resisto as noites com edições do Daniel Belo e alguns grandes programas de autor como "A menina Dança?", "Amigo da Música" ou "Silêncio". Dopu comigo a pensar que estou a envelhecer a um ritmo quase tão frenético como aquele que me faz jantar por alturas de mudança de dia e acordar pouco depois de amanhecer.
Dou comigo a cantarolar entusiasticamente quando oiço "Rosas Brancas" de Maria Leon, a sorrir deslumbrado quando a Danae sussurra "Meu Mar" e até (e este facto seria de todo improvável) a gostar de ouvir a Viviane a solo.
Se calhar são apenas grandes temas.
Alguns dos melhores que este verão pode deixar na memória selectiva de muitos.
Ou se calhar sou eu que estou a ficar com o ouvido fácil e destreinado.
Também pode ser, pura e simplesmente, calor a mais.
Mas sabe muito bem.

"International Music News" - a compilação


Hoje em dia cada um faz as suas próprias compilações.
Na verdade, e com relativa saudade do tempo em que aguentava a tecla pause com todo o carinho para tentar criar a passagem menos desastrosa possível na velhinha cassete BASF ferro, basta passar umas horas a procurar umas relíquias online ou, porque não, ripar dos cds para o pc e ligar o Nero.
Mas, mesmo assim, ainda há compilações que conseguem surpreender.
Com a intenção de dar o corpo ao manifesto e divulgar as sonoridades que mais o merecem, a francesa Wagram Music começa (com este volume) o que supostamente será uma série de compilações com temas que raramente aparecem em rádios ou tv's.
Alice Russel, Earl Zinger e Big Boss Man são apenas alguns dos 17 temas que procuram novos ritmos e novas fronteiras dentro das tonalidades dançáveis tendo sempre presente o conceito lúdico de uma qualquer construção de música popular.

O penúltimo finisterra

antes da grelha de verão da Rádio Universidade de Coimbra, por Eduardo Brito
A música e os sons
1 – Patrick Cassidy – Vide Cuor Meum
A – Anthony Hopkins – Letter to Clarice, do filme Hannibal
B - Gary Oldman – Letter to Johnathan Harker, do filme Bram Stoker's Dracula
2 – Zbigniew Preisner – Blanc
3 – Brad Mehldau – Everything In It's Right Place
4 – Chet Baker – Somewhere Over The Rainbow
5 – Fennesz – A Year In A Minute
C– Jean Louis Trintignant & Irene Jacob – Rencontré - do filme Rouge
D - Emanuelle Riva- Tu me fais du bien (echoed), do filme Hiroshima, Mon Amour
6 – David Sylvian – Mother And Child
E – Highway Traffic In Your Leg
7 – Vincent Gallo – Her Smell Theme
8 – Alberto Iglesias – Me Voy a Morir de Tanto Amor
F – Paz Veja – Loca perdida, do filme Lucía Y El Sexo
G – Peter Challis @ a-bomb.uk
H – Old Tv Show
I – Gary Oldman – I have crossed oceans of time to find you, do filmeBram Stoker's Dracula
J – Krzisztof Komeda – The Vampyre's Ball, com diálogos de RomanPolanski e Jack McGowran , do filme The Fearless Vampyre Killers
K – Ferdy Maine - Professor Abronsius Never Guessed, do filme The Fearless Vampyre Killers
9 – Keith Jarret – Goldberg Variations – Aria
L – Le Point Mirabeau
10 – Zbigniew Preisner – On The Deck - com diálogos de StellanSkalskgaard e Lena Headey, do filme Aberdeen
M – Joseph Beuys - Yayaya, Nenene
11 – Chinese Folk Songs - Erhu
N – Brad Pitt – Our Great War, do filme Fight Club
12 – Ryuichi Sakamoto – Last Regrets
O – Serge Gainsbourg – One Two Soundcheck
13 – Serge Gainsbourg – Crazy Horse
P –Al-fredo - Los Vecinos Son unos Hijos de Puta
14 – Laurie Johnson - The Avengers Theme
15 – Azembla's Quartet – Aniversário
Q – Dunn Ng Hodges
R – Peter Sellers - I Have Always Failed Where Others Have Succeeded,do filme The Pink Panther Strikes Again
16 – Henry Mancini – The Pink Panther Theme
S – Peter Challis @ a-bomb.uk
T – Telephone Piece 9 Digit
U – Salvador Dali – Ici
17 – Kimmo Pohjonnen - Aroma
V – Phillipe Noiret – Dimentica tutto, do filme Cinema Paradiso
18 – Ennio Morricone – Elena
19 – Klaus Nomi – Cold Song
As palavras...
Rádio Universidade de Coimbra, 1 de Julho de 2005. Finisterra, hoje com realização e locução de Eduardo Brito.
O Finisterra de hoje faz-se de revisões, de revisitas e de músicas sem palavras.
A voz que canta aparece apenas no princípio e no fim.
Pelo meio, ficam as memórias do cinema, o barulho da cidade, as vozes poéticas carregadas de grão.
Músicas sem palavras, palavras pelo meio das músicas até ao morrer da canção, até ao morrer da terra.
Início com Patrick Cassidy e Vide Cuor Meum, adaptação musical do poema de Dante para Beatrice Portinari, La vita Nuova.
Estávamos em Florença, no final do século XIII.
As mãos.
As mãos que tocam, que escrevem: as mãos de Brad Mehldau a tocarem a música escrita por Thom Yorke.
Tudo no seu lugar: para trás, duas cartas assinadas com iniciais, H de Hannibal, D, de Drácula, uma viagem ao fim da Europa, à Polónia branca musicada por Zbigniew Preisner e para a frente, Chet Baker trompetiza a canção cantada porJudy Garland, que acreditava mesmo em Somewhere Over The Rainbow.
Músicas sem palavras, depois das palavras de Jean Louis Trintignant e Irene Jacob, depois de Emmanuelle Riva fundir o corpo na cidade feita à medida do amor.
Estamos em Hiroshima, recordamos Fennesz em A YearIn a Minute e paramos no calor da cânfora de David Sylvian, com MotherAnd Child.
Depois seguem-se mais recordações: o transito da cidade do norte, Vincent Gallo rodopia em torno do aroma dela, Paz Vejadeclara-se completamente enamorada, por entre o ambiente criado paraLúcia, por Alberto Iglésias.
O Finisterra de hoje faz-se de revisões sonoras, de músicas sem palavras, de palavras e memórias, iniciadas nesta mesma hora, no dia vinte e um de Outubro de 2004.
Desde a voz de Lúcia viajamos bastante: paramos na Londres de Peter Challis, vimos televisão e filmes de vampiros que nos fizeram ter medo: Gary Oldman fez de Dracula, Roman Polanski jurou o amor em Veneza enquanto dançava um baile diabólico com Sharon Tate.
Depois daRoménia, voltamos às mãos: às mãos de Keith Jarrett a hipnotizar o ouvido em um minuto e doze segundos de perfeição, numa variação deGoldberg. Ouvimos a grafonola arranhar Le point mirabeau, viajamos de ferry até Aberdeen, com as vozes de Lena Headey e Stellan Skalskgaardpelo meio dos mares gelados.
Das terras do norte fomos até à China, com paragem na voz do artista Joseph Beuys.
Tudo isto com músicas sem palavras.
O fim da voz, o fim dos sonhos de Brad Pitt, o Japão de Sakamoto com Last Regrets e por fim, o sorriso rouco do génio de Gainsbourg sob requiem pour un con.
Agora dançamos.
Em Paris, no CrazyHorse de Serge.
Últimos instantes do Finisterra de hoje, com a voz apenas a surgir por entre as músicas instrumentais, com a voz a trazer ao ouvido as imagens da tela de cinema e do ecrã de televisão. Desde Los vecinos son unos hijos de puta, já parámos na Londres posh dos anos sessenta, com John Steed e Emma Peel, vingadores do tema de Laurie Johnson, estivemos no café Bossa Nova dos Azembla's Quartet e voltamos ao cinema pela voz imortal de Peter Sellers e pelos clássicos revisitadosao som da Pantera Cor de Rosa.
Dos leves ritmos celestes de HenryMancini, descemos aos sons infernais do Aroma finlandês de KimmoPojhonen, não sem antes nos determos na identidade de Dali.
Para o fimda terra, ouvimos Alfredo, de Cinema Paradiso, obrigar-nos a esquecer de tudo, de imediato lembramos o amor de Totó pelo cinema.
E o fim da terra, o fim das músicas sem voz, dá-se com a voz feérica de KlausNomi numa sublime e gélida interpretação de Cold Song, de HenryPurcell.
E por fim, o finisterra chega ao fim. Volta para a semana para mais um adeus e depois… depois parte por aí fora.