Fim de semana na Capital...

Havia uma procissão e, para afogar as máguas da desilusão que foi o Schneider TM ( sim, enganei-me redondamente), nada melhor do que uma corrida às melhores capelas da capital (Carbono, Ananana e Fnac, ok, faltou a flur).
E porque não estou habituado a grandes cidades e o tempo passa a correr é aproveitar o que há.
O filme "O Fiel Jardineiro" é deslumbrante.
A peça "O Grande Criador", em apresentação no Chapitô é deliciosa.
E o Stockhausen... enfim, proporcionou-me uma experiência única.
Acho que tão cedo não volto a um concerto, não consegui ouvir nada no regresso a casa.
Foi um dia ganho. Fiquei com a sensação de ter visto a luz e de ter descoberto que passo o tempo a ouvir música mediocre.
E às 10 da noite ainda havia chocolate em Óbidos.

11/11 - Schneider TM


Dirk Dresselhaus estreia-se em Portugal.
Provavelmente em formato de DJ ao duelo com Rechenzentrum.
É no âmbito do festival número , no Clube Lua (Jardim do Tabaco, em Lisboa).
Estou convencido que vai ser um momento único.
Mas posso enganar-me.

The Entertainer


Roisin Murphy actuou na passada segunda feira em Berlim, na Kulturbrauerei e a primeira coisa que se pode dizer é: E-X-C-E-P-C-I-O-N-A-L!!! Roisin Murphy deslumbrou e seduziu. Apareceu de casacão vestido, sobre um conjunto saia casaco. Mais tarde mudou para vestidinho de verão e para algo a puxar ao can-can- Dançou, fez sapateado, meneou as coxas, sacudiu as ancas para a secção de metais e puxou pelo público. A sua actuação transpirou sexo de tal forma que até casais de gays - muitos, assim como de lésbicas - se entusiasmavam - as lésbicas também, mas de forma mais compreensível.

O concerto começou tarde. Antes do início, a sala - talvez para 500 pessoas - foi enchendo enquanto um DJ passava muito hip-hop depois de ter começado com sons mais electrónicos. Mais tarde, o mesmo DJ foi cumprir as funções de baixista. Roisin Murphy, num impecável sentido de oportunidade, apareceu finalmente quando o público dava mostras de saturação. Chegou com a banda a atacar a primeira música e começou logo a arrasar com a sua batida enleante e suavizada pelos dois trompetes e uma saxofone (às vezes também uma flauta) que acompanhavam a banda. A banda em si teve direito a apenas dois momentos de aplauso: quando Roisin os deixa em palco para um diálogo entusiasmante - e de volume bem elevado - entre o trompetista e o teclista e, mais tarde, quando em vez de os apresentar uma a um, lhes vai antes dar um beijo, bem sonoro e de microfone bem perto, ao som de "If we're in love".

Quanto às músicas, de referir que Roisin não foi buscar os sucessos de Moloko. Baseou o espectáculo no albúm em nome próprio "Ruby Blue" (realmente em nome próprio, segundo ela informou a audiência) apenas estendendo um pouco os mesmos à custa de arranjos e de aparentes improvisações dos músicos. Digo "aparentes", porque não o eram, não realmente. Roisin Murphy controlou todo o espectáculo e mesmo o momento mais forte, um crescendo musical que se confundiu a certa altura com barulho, dada a desarmonia entre os instrumentos e voz (para lá do volume de tudo isto), acabou por ser confirmado como perfeitamente ensaiado, com uma redução instantânea e abrupta para o som inicial, baixo e melancólico, no momento certo e em perfeito uníssono, sem qualquer sinal evidente de qualquer dos músicos.

A conclusão? Roisin Murphy chegou para ficar. Pelo menos em concerto. É uma show-woman por direito próprio e deixou toda a gente com a sensação que os 24 euros do bilhete tinham sido uma verdadeira pechincha. Em Berlim fica a vontade de retirar o título a Chilli González e dá-lo a ela: The Entertainer.

Fica apenas a pergunta: para quando uma actuação perante o público português?

D.mo'Lition Jay

Um disco revolucionário?



Alguém que muito nos ensina escreveu sobre o novo "New Blues" de Ernesto na página da RUC.

A electrónica, por si só, nunca conferiu um estatuto de futuro se a base musical à qual se associaria não tivesse o mínimo do interesse. Mas, depois da sua generalização no campo da pop, torna-se ainda mais difícil reconstruir o futuro. Os Massive Attack, por exemplo, pegaram em abrangentes “Blue Lines”, retiram-lhes amostras e iniciaram mais uma via para a canção, os United Future Organization encontraram meio de conferir um estilo dançável ao “hard-bop” e ressuscitaram a “bossa-nova” tornando-a música de actualidade outra vez e os Thievery Corportion sintetizaram a tradição dos “sound-systems” jamaicanos inserindo-os num contexto cénico onde a expansão é possível – afinal o cosmos é o lugar por excelência para o sonho. Os exemplo indicados, materializaram-se através dos meios electrónicos, que foram, contudo, somente o meio para atingir o fim.

Mas a música electrónica surgiu quando o transístor ainda nem sequer era totalmente sonhado, chamavam-lhe electroacústica e os Beattles viram nela a possibilidade da concretização de um sonho experimental. Agora, já não é necessário ter fitas magnéticas que percorram o estúdio, para manter um “loop” estável sobre o qual se constrói uma música, como aconteceu com Herbie Hancock - basta um “laptop” com “pro-tools” e fazer “copy&paste” e o “scratching” também não implica um DJ treinado. Quase tudo é possível, à excepção da criação sintética da criatividade.

Ernesto, vulgo Jonatan Bäckelie, sueco de nascença radicado em Birmingham, resolveu lembrar-se que a pop veio do rock, por sua vez com código genético dos “blues” e assim partiu em busca da tradição. Talvez não tenha sido necessário sentir-se tentado pelo diabo num cruzamento da mítica “highway 61” mas antes num encontro de informação na Internet. Resistiu à tentação e seguiu rumo à tradição. “New Blues” - é disso que se trata verdadeiramente e poderia ter sido o caminho dos Massive Attack, não tivessem eles querido seguir a rota segura do apuro estético antes de se perderem.

Paulo Sebastião